Thursday, November 7, 2013

Luz Abigail

Saída de Campo


         
            Dia 1° de Novembro de 2013, realizamos nossa primeira saída de campo com o objetivo de recrutar imagens e novos conhecimentos que nos possibilitem entrar em uma nova dimensão com relação ao tema do nosso projeto de pesquisa.
         
    Através desta saída conseguimos visualizar e até mesmo compreender diversos fatores que influenciam o acontecimento (crime) que ocorreu na chamada Rua do Arvoredo, atualmente chamada de Rua Fernando Machado, presenciamos também os traços marcantes em determinadas casas, a arquitetura rebuscada das mesmas chamou a nossa atenção, encontramos assim, a casa na qual teriam sido cometidos os assassinatos e descobrimos que a casa que fica no local atualmente não seria a mesma na qual os assassinatos teriam ocorrido. Após está “visita”, nos encaminhamos para o Arquivo Público, no qual encontramos e nos aprofundamos ainda mais nos crimes realizados por José Ramos e sua esposa Catarine Palsen, encontrando os registros originais da época no qual os crimes aconteceram e conseguimos perceber o quanto ele marcou toda essa geração pelo fato de ser um caso inédito ocorrido na pequena cidade que Porto Alegre ate então.

         
   Neste local também tivemos a possibilidade de ter contato com os autos do processo e distinguir assim, de certa forma, o imaginário do real, ou seja, o que ocorreu de fato do que a sociedade local da época e a atual contam.





Porto alegre no século XIX 
            
             Não podemos falar do incidente ocorrido no século XIX em Porto Alegre sem nos situarmos nessa época primeiramente, conhecer o local onde os crimes aconteceram e como era o cotidiano das pessoas naquela época nos ajudara a compreender melhor o corrido. É por isso que a seguir nos aprofundaremos mais na cidade de Porto Alegre como um todo e não somente no crime em si, mostrando também a evolução e as mudanças pelas quais a cidade passou desde então. A fotografia ao lado mostra a cidade exatamente no século XIX e nos ajuda a perceber tais mudanças.
            
                Sendo assim, no inicio do século XIX, Porto Alegre era vista apenas como freguesia, o alvará de 27 de agosto de 1808 e a resolução Régia de sete de outubro de 1809 fizeram com que a freguesia passe-se a categoria de vila e com o alvará de 1812 a mesma tornou-se capital da Capitania de São Pedro do Rio Grande, criada recentemente, e sede da comarca de São Pedro do Rio Grande e Santa Catarina, e só no dia 14 de abril de 1822 por decreto de D. Pedro I, ganhou foro de cidade e desde então começaram a chegar os primeiros imigrantes.
            
           Nas primeiras décadas do século XIX, Porto alegre possuía uma paisagem agradável de contemplar e um clima ameno, o que para os estrangeiros trazia lembranças das melhores regiões da Europa, os mesmos eram surpreendidos pelo seu basto movimento, seu variado comércio, o garbo dos seus sobrados, o pitoresco de seus caminhos e subúrbios e a escassez da população negra, já que Brasil possuía e ainda possui um elevado numero de descendentes de tal raça. No entanto, a nossa famosa Porto Alegre, também possuía seus aspectos negativos, tanto os estrangeiros quanto a população da região reclamavam da falta de cuidados para com os edifícios públicos e também a falta de higienização da cidade no geral. 


Ø  Pintura de Herrmann Wendroth, a qual representa Porto Alegre, vista dos altos da Santa Casa em direção ao sul, no ano de 1852.

            Foi ao longo do século XIX que o crescimento da cidade começou, já que os portugueses possuíam a ajuda de imigrantes europeus, contavam com mão de obra escrava dos africanos e a ajuda de hispânicos do Prata.
            Na cidade começaram a realizar-se melhoras nos equipamentos públicos, construindo fontes para abastecimento de água, melhoramento das ruas, construção de novos cemitérios, uma nova cadeia, asilos e uma nova Câmara, deixando assim, o mercado público maior, também tiveram avanços na área da saúde, estruturando o atendimento medico com a promulgação da Santa Casa de Misericórdia e da Beneficência Portuguesa.


Ø  A antiga Matriz e o Palácio de Barro, os dois primeiros edifícios importantes da cidade. Aquarela de Herrmann Wendroth, c. 1851.




Ø  Aspecto do interior da antiga Matriz, em uma de suas últimas fotos antes de ser demolida para dar lugar à atual Catedral.


Ø  Mercado Público em torno de 1875, depois da primeira ampliação.


 Ø   Virgilio Calegari: A Santa Casa no fim do século XIX.


            No ano de 1855, irrompeu na cidade uma epidemia muito grave que acabou ceifando 1.400 vidas, a mesma epidemia voltou dez anos depois, mas o numero de mortes foi muito menor. A partir de então, o comercio e consequentemente a economia cresceram e se intensificaram, instalando-se na região diversos restaurantes, pensões, variados estabelecimentos comerciais, alambiques e pequenas manufaturas, também o numero de imigrantes alemães cresceu de uma forma marcante. Em torno de 1860, Porto Alegre já era a quarta maior cidade do Brasil, tinha cerca de vinte mil habitantes, dos quais pelos menos três mil eram alemães e muitos deles possuíam propriedades comerciais na rua até então chamada Rua do Arvoredo, possuía um total de quatro mil casas, 18 edifícios públicos e sete Igrejas.
            No período de 1865 a 1870 a Guerra do Paraguai transformou a capital gaucha na cidade mais próxima da guerra, a mesma recebeu dinheiro do governo central, novos estaleiros, serviços telegráficos , quartéis e melhorias na área portuária.
            Na parte mais estrutural da nossa cidade, no ano de 1872 entraram em circulação as primeiras linhas do bonde, em 1874 foi concluída a ferrovia que une Porto Alegre e Novo Hamburgo e foi inaugurada a iluminação a gás de carvão e ate 1870 o abastecimento de água foi melhorado, isso graças a edificação da canalização, já o sistema de esgoto apenas começou a ser implantado no final desse século.

           
             Nesse século o Neoclassicismo tornou-se uma influencia muito marcante e junto com o antigo colonial originaram varias soluções ecléticas que iriam dominar o panorama até a década de 1930, o prédio que mostra exatamente um perfil neoclássico é o prédio da Cúria Metropolitana (como mostra a imagem ao lado), construído a partir de 1865 e caracterizado pelo seu majestoso conjunto de dimensões palacianas.


         A herança do estilo colonial manteve-se marcante até fins do século XIX, podíamos perceber isso principalmente na arquitetura popular, as quais possuíam fachadas com perfis austeros e os únicos ornamentos que possuíam era um arco nas aberturas ou um gradil de ferro trabalhado e mais escassamente um revestimento de azulejos. Pelas necessidades impostas pelo modelo urbano da época, as fachadas ficavam muito próximas, e podiam ser de ate de dois andares.

          A maioria das casas era feita de adobe ou tijolo com cobertura de telhas, possuíam um reboco e caiação por fora e suas aberturas tinham molduras aparentes em madeira. Ainda hoje podemos perceber isso nas poucas residências que sobreviveram com o passar dos anos, um exemplo poderia ser a Casa Ferreira de Azevedo, mas infelizmente atualmente a mesma encontra-se em um estado degradante.
A classe nobre da época, ou seja, a elite construía casas mais amplas e com uma decoração bem mais rebuscada conseguindo assim, conciliar o luxo e a harmonia nos seus interiores, às vezes dispunham de extensos jardins, podemos citar como exemplo o Solar dos Câmara, construído entre 1818 e 1824, reformado em 1874, que caracteriza-se por se a construção mais antiga e ainda em bom estado de conservação, e atualmente ali funciona um centro cultural.

           Outra construção não tão antiga mais ainda construída no século XIX é o Solar Lopo Gonçalves que se encontra em excelentes condições, construída entre 1845 e 1855, caracteriza-se por ser um conjunto arquitetônico composto por uma casa senhorial cercada de benfeitorias, como paióis, senzalas e depósitos, atualmente funciona alí o Museu Joaquim Felizardo.

          Em relação às estruturas religiosas, podemos citar a Igreja das Dores, construída no ano de 1807 e considerada tanto um Patrimônio Nacional quanto mais antiga de Porto Alegre que ainda sobrevive, embora já tenha sofrido infinidades de modificações no seu exterior, o seu interior continua intacto.


Ø  Luigi Terragno: Antiga Praça do Paraíso com o Mercado Público ao fundo, 1877




Ø  Athayde d'Avila: Rua da Praia, c. 1880. Imagem do centro da cidade no século XIX, ainda com presença maciça de casario colonial.

            Em relação aos prédios que tinham caráter de lazer, o Teatro São Pedro (figura ao lado) é considerado o teatro mais antigo de Porto Alegre inaugurado no dia 27 de Junho de 1858, tendo uma capacidade para 700 pessoas e uma decoração caracterizada pelo luxo a qual possuía veludo e ouro, no ano de 1970 quase foi demolida por ter sofrido uma degradação acentuada, mas por possui um importante valor cultural foi reformado e esta ali ate os dias de hoje.
            Atualmente a nossa cidade possui prédios que foram inicialmente construídos nesse século, mas que ao longo do tempo sofreram modificações tanto no interior quanto no seu exterior.


Ø  Mercado Público, mostra uma arquitetura típica daquela epoca.

            O local exato onde ocorreram os crimes foi na rua do arvoredo, atualmente chamada de Rua Coronel Fernando Machado ( nome dado no ano de 1870) , começa na Rua General Vasco Alves e termina na Rua Coronel Genuíno, a mesma ganhou notoriedade por um episodio insólito, o maior crime que esta cidade já teria presenciado ate então, com a designação do seu primeiro nome ela foi uma das primeiras ruas da cidade ainda quando a mesma não era vista como cidade mais apenas como uma vila, encontramos o primeiro registro datado no ano de 1788, o qual mostra a escritura publica de compra e venda, relativa a uma “casa e cozinha de palha” que fazia frente com a rua direita que sai da Matriz e fundos para a Rua do Arvoredo, o que afirma a existência de moradores já no século XVIII .
            A Rua do Arvoredo no século XIX era moradia de pessoas de media e baixa renda, composta por residências e pequenos estabelecimentos comerciais que em muitos casos eram propriedades de imigrantes e também o local menos esperado para que um latrocínio como o que ocorreu acontecesse. Foi no ano de 1864 que as autoridades descobriram os assassinatos cometidos por um morador da Rua do Arvoredo e da sua esposa, que fisgava as vitimas no Beco da Ópera (atualmente a Rua Uruguai), os levava pelo velho beco do poço ate a rua da igreja (atual Rua Duque de Caxias) e por fim até a casa deles, um sobrado que ficava atrás da antiga matriz, aonde ainda nessa época existia o cemitério da cidade e atualmente reside a Catedral. Segundo a lenda para poder desaparecer os corpos, se fazia dos mesmos lingüiças, a pessoa encarregada disso era Carlos Claussner que vendia a lingüiça na Rua da Ponte (atual Rua Riachuelo).



            

Ao lado podemos ver a antiga Rua do Arvoredo no século XIX e logo abaixo a mesma rua atualmente.


           

            Não se tem indícios de que a forma como Jose Ramos matava as suas vitimas tivesse alguma relação com a Guerra do Paraguai e nem com a Guerra Farroupilha, apenas podemos afirmar que o nome da Rua do Arvoredo quando mudada para Rua Coronel Fernando Machado foi em homenagem a Fernando Machado de Souza, coronel no combate de Itororó, em 1868 na guerra do Paraguai, e esse seria a única ínfima ligação que existe entre os crimes e a guerra, mas mesmo não tendo provas, de fato Jose poderia muito bem ter utilizado as técnicas utilizadas na guerra  para cometer os assassinatos  já que ele era um informante da policia local  e possuía todo esse tipo de informações mas, com já dito, não se tem provas que atestem isso.

          Como podemos perceber a nossa cidade mudou bastante em termos de estrutura, mas ainda assim continua a mesma em relação à importância, percebemos que desde o seu nascimento teve um importante papel em variados assuntos o que não mudou atualmente já que é considerada uma das mais importantes cidades brasileiras e com um papel bastante relevante na economia e no turismo por possuir locais lindos para se conhecer.


Referência

Ø  http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_de_Porto_Alegre
Ø  http://www.issoebizarro.com/blog/materias-issoebizarro/os-crimes-da-rua-arvoredo/








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