Saída de Campo
Dia 1°
de Novembro de 2013, realizamos nossa primeira saída de campo com o objetivo de
recrutar imagens e novos conhecimentos que nos possibilitem entrar em uma nova
dimensão com relação ao tema do nosso projeto de pesquisa.
Através desta
saída conseguimos visualizar e até mesmo compreender diversos fatores que
influenciam o acontecimento (crime) que ocorreu na chamada Rua do Arvoredo, atualmente
chamada de Rua Fernando Machado, presenciamos também os traços marcantes em
determinadas casas, a arquitetura rebuscada das mesmas chamou a nossa atenção,
encontramos assim, a casa na qual teriam sido cometidos os assassinatos e
descobrimos que a casa que fica no local atualmente não seria a mesma na qual
os assassinatos teriam ocorrido. Após está “visita”, nos encaminhamos para o
Arquivo Público, no qual encontramos e nos aprofundamos ainda mais nos crimes
realizados por José Ramos e sua esposa Catarine Palsen, encontrando os
registros originais da época no qual os crimes aconteceram e conseguimos
perceber o quanto ele marcou toda essa geração pelo fato de ser um caso inédito
ocorrido na pequena cidade que Porto Alegre ate então.
Neste local
também tivemos a possibilidade de ter contato com os autos do processo e
distinguir assim, de certa forma, o imaginário do real, ou seja, o que ocorreu
de fato do que a sociedade local da época e a atual contam.
Nesse século o Neoclassicismo
tornou-se uma influencia muito marcante e junto com o antigo colonial
originaram varias soluções ecléticas que iriam dominar o panorama até a década
de 1930, o prédio que mostra exatamente um perfil neoclássico é o prédio da
Cúria Metropolitana (como mostra a imagem ao lado), construído a partir de 1865
e caracterizado pelo seu majestoso conjunto de dimensões palacianas.
Em relação aos prédios que tinham
caráter de lazer, o Teatro São Pedro (figura ao lado) é considerado o teatro
mais antigo de Porto Alegre inaugurado no dia 27 de Junho de 1858, tendo uma
capacidade para 700 pessoas e uma decoração caracterizada pelo luxo a qual
possuía veludo e ouro, no ano de 1970 quase foi demolida por ter sofrido uma
degradação acentuada, mas por possui um importante valor cultural foi reformado
e esta ali ate os dias de hoje.
Porto
alegre no século XIX
Não podemos falar do incidente
ocorrido no século XIX em Porto Alegre sem nos situarmos nessa época
primeiramente, conhecer o local onde os crimes aconteceram e como era o
cotidiano das pessoas naquela época nos ajudara a compreender melhor o corrido.
É por isso que a seguir nos aprofundaremos mais na cidade de Porto Alegre como
um todo e não somente no crime em si, mostrando também a evolução e as mudanças
pelas quais a cidade passou desde então. A fotografia ao lado mostra a cidade
exatamente no século XIX e nos ajuda a perceber tais mudanças.
Sendo
assim, no inicio do século XIX, Porto Alegre era vista apenas como freguesia, o
alvará de 27 de agosto de 1808 e a resolução Régia de sete de outubro de 1809
fizeram com que a freguesia passe-se a categoria de vila e com o alvará de 1812
a mesma tornou-se capital da Capitania de São Pedro do Rio Grande, criada
recentemente, e sede da comarca de São Pedro do Rio Grande e Santa Catarina, e
só no dia 14 de abril de 1822 por decreto de D. Pedro I, ganhou foro de cidade
e desde então começaram a chegar os primeiros imigrantes.
Nas primeiras décadas do século XIX,
Porto alegre possuía uma paisagem agradável de contemplar e um clima ameno, o
que para os estrangeiros trazia lembranças das melhores regiões da Europa, os
mesmos eram surpreendidos pelo seu basto movimento, seu variado comércio, o
garbo dos seus sobrados, o pitoresco de seus caminhos e subúrbios e a escassez
da população negra, já que Brasil possuía e ainda possui um elevado numero de
descendentes de tal raça. No entanto, a nossa famosa Porto Alegre, também
possuía seus aspectos negativos, tanto os estrangeiros quanto a população da
região reclamavam da falta de cuidados para com os edifícios públicos e também a
falta de higienização da cidade no geral.
Ø Pintura de Herrmann Wendroth, a
qual representa Porto Alegre, vista dos altos da Santa Casa em direção ao sul,
no ano de 1852.
Foi ao longo do século XIX que o crescimento
da cidade começou, já que os portugueses possuíam a ajuda de imigrantes europeus,
contavam com mão de obra escrava dos africanos e a ajuda de hispânicos do
Prata.
Na cidade começaram a realizar-se
melhoras nos equipamentos públicos, construindo fontes para abastecimento de água,
melhoramento das ruas, construção de novos cemitérios, uma nova cadeia, asilos
e uma nova Câmara, deixando assim, o mercado público maior, também tiveram
avanços na área da saúde, estruturando o atendimento medico com a promulgação
da Santa Casa de Misericórdia e da Beneficência Portuguesa.
Ø A
antiga Matriz e o Palácio de Barro, os dois primeiros edifícios importantes da
cidade. Aquarela de Herrmann
Wendroth, c. 1851.
Ø Aspecto do interior da antiga Matriz, em uma
de suas últimas fotos antes de ser demolida para dar lugar à atual Catedral.
Ø Mercado Público em torno de 1875, depois da
primeira ampliação.
No ano
de 1855, irrompeu na cidade uma epidemia muito grave que acabou ceifando 1.400
vidas, a mesma epidemia voltou dez anos depois, mas o numero de mortes foi
muito menor. A partir de então, o comercio e consequentemente a economia
cresceram e se intensificaram, instalando-se na região diversos restaurantes,
pensões, variados estabelecimentos comerciais, alambiques e pequenas
manufaturas, também o numero de imigrantes alemães cresceu de uma forma
marcante. Em torno de 1860, Porto Alegre já era a quarta maior cidade do
Brasil, tinha cerca de vinte mil habitantes, dos quais pelos menos três mil
eram alemães e muitos deles possuíam propriedades comerciais na rua até então
chamada Rua do Arvoredo, possuía um total de quatro mil casas, 18 edifícios
públicos e sete Igrejas.
No
período de 1865 a 1870 a Guerra do Paraguai transformou a capital gaucha na
cidade mais próxima da guerra, a mesma recebeu dinheiro do governo central,
novos estaleiros, serviços telegráficos , quartéis e melhorias na área portuária.
Na parte
mais estrutural da nossa cidade, no ano de 1872 entraram em circulação as
primeiras linhas do bonde, em 1874 foi concluída a ferrovia que une Porto
Alegre e Novo Hamburgo e foi inaugurada a iluminação a gás de carvão e ate 1870
o abastecimento de água foi melhorado, isso graças a edificação da canalização,
já o sistema de esgoto apenas começou a ser implantado no final desse século.
A herança do estilo colonial manteve-se marcante até fins
do século XIX, podíamos perceber isso principalmente na arquitetura popular, as
quais possuíam fachadas com perfis austeros e os únicos ornamentos que possuíam
era um arco nas aberturas ou um gradil de ferro trabalhado e mais escassamente
um revestimento de azulejos. Pelas necessidades impostas pelo modelo urbano da
época, as fachadas ficavam muito próximas, e podiam ser de ate de dois andares.
A maioria das casas era feita de adobe ou tijolo com
cobertura de telhas, possuíam um reboco e caiação por fora e suas aberturas
tinham molduras aparentes em madeira. Ainda hoje podemos perceber isso nas
poucas residências que sobreviveram com o passar dos anos, um exemplo poderia
ser a Casa Ferreira de Azevedo, mas infelizmente atualmente a mesma encontra-se
em um estado degradante.
A classe nobre da época, ou seja, a elite construía casas
mais amplas e com uma decoração bem mais rebuscada conseguindo assim, conciliar
o luxo e a harmonia nos seus interiores, às vezes dispunham de extensos jardins,
podemos citar como exemplo o Solar dos Câmara, construído entre 1818 e 1824,
reformado em 1874, que caracteriza-se por se a construção mais antiga e ainda
em bom estado de conservação, e atualmente ali funciona um centro cultural.
Outra construção não tão antiga mais ainda construída no
século XIX é o Solar Lopo Gonçalves que se encontra em excelentes condições,
construída entre 1845 e 1855, caracteriza-se por ser um conjunto arquitetônico composto
por uma casa senhorial cercada de benfeitorias, como paióis, senzalas e
depósitos, atualmente funciona alí o Museu Joaquim Felizardo.
Em relação às estruturas religiosas, podemos citar a
Igreja das Dores, construída no ano de 1807 e considerada tanto um Patrimônio
Nacional quanto mais antiga de Porto Alegre que ainda sobrevive, embora já
tenha sofrido infinidades de modificações no seu exterior, o seu interior
continua intacto.
Ø Athayde
d'Avila: Rua da Praia, c. 1880.
Imagem do centro da cidade no século XIX, ainda com presença maciça de casario
colonial.
Atualmente
a nossa cidade possui prédios que foram inicialmente construídos nesse século,
mas que ao longo do tempo sofreram modificações tanto no interior quanto no seu
exterior.
O local
exato onde ocorreram os crimes foi na rua do arvoredo, atualmente chamada de
Rua Coronel Fernando Machado ( nome dado no ano de 1870) , começa na Rua
General Vasco Alves e termina na Rua Coronel Genuíno, a mesma ganhou
notoriedade por um episodio insólito, o maior crime que esta cidade já teria
presenciado ate então, com a designação do seu primeiro nome ela foi uma das
primeiras ruas da cidade ainda quando a mesma não era vista como cidade mais
apenas como uma vila, encontramos o primeiro registro datado no ano de 1788, o
qual mostra a escritura publica de compra e venda, relativa a uma “casa e
cozinha de palha” que fazia frente com a rua direita que sai da Matriz e fundos
para a Rua do Arvoredo, o que afirma a existência de moradores já no século
XVIII .
A Rua do Arvoredo no século XIX era
moradia de pessoas de media e baixa renda, composta por residências e pequenos
estabelecimentos comerciais que em muitos casos eram propriedades de imigrantes
e também o local menos esperado para que um latrocínio como o que ocorreu acontecesse.
Foi no ano de 1864 que as autoridades descobriram os assassinatos cometidos por
um morador da Rua do Arvoredo e da sua esposa, que fisgava as vitimas no Beco
da Ópera (atualmente a Rua Uruguai), os levava pelo velho beco do poço ate a
rua da igreja (atual Rua Duque de Caxias) e por fim até a casa deles, um
sobrado que ficava atrás da antiga matriz, aonde ainda nessa época existia o
cemitério da cidade e atualmente reside a Catedral. Segundo a lenda para poder
desaparecer os corpos, se fazia dos mesmos lingüiças, a pessoa encarregada
disso era Carlos Claussner que vendia a lingüiça na Rua da Ponte (atual Rua
Riachuelo).
Ao lado podemos ver a antiga Rua do
Arvoredo no século XIX e logo abaixo a mesma rua atualmente.
Não se tem indícios de que a forma como Jose
Ramos matava as suas vitimas tivesse alguma relação com a Guerra do Paraguai e
nem com a Guerra Farroupilha, apenas podemos afirmar que o nome da Rua do
Arvoredo quando mudada para Rua Coronel Fernando Machado foi em homenagem a
Fernando Machado de Souza, coronel no combate de Itororó, em 1868 na guerra do
Paraguai, e esse seria a única ínfima ligação que existe entre os crimes e a
guerra, mas mesmo não tendo provas, de fato Jose poderia muito bem ter
utilizado as técnicas utilizadas na guerra
para cometer os assassinatos já
que ele era um informante da policia local e possuía todo esse tipo de informações mas,
com já dito, não se tem provas que atestem isso.
Como podemos perceber a nossa
cidade mudou bastante em termos de estrutura, mas ainda assim continua a mesma
em relação à importância, percebemos que desde o seu nascimento teve um
importante papel em variados assuntos o que não mudou atualmente já que é
considerada uma das mais importantes cidades brasileiras e com um papel
bastante relevante na economia e no turismo por possuir locais lindos para se
conhecer.
Referência
Ø http://pt.wikipedia.org/wiki/Arquitetura_de_Porto_Alegre
Ø http://www.issoebizarro.com/blog/materias-issoebizarro/os-crimes-da-rua-arvoredo/
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